quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Cinco Quinas jornal do Sabugal


Meimão – Escultura em homenagem ao emigrante e imigrante. Ver fotos

Foi inaugurada a obra em homenagem aos emigrantes e imigrantes naturais da freguesia do Meimão, no passado dia 3 de Outubro. O padre César foi o pároco de serviço que realizou a Missa Campal e abençoou a escultura.

A Serra de Malcata, o rio e o emigrante/imigrante encontram-se representados nesta escultura realizada pelo mestre Eugénio Macedo, que aproveitou e requalificou da melhor forma, um antigo poço existente no espaço onde a escultura foi erigida.
Esta escultura há muito tempo que vinha sendo pensada, mas “só mesmo no fim do mandato é que foi possível conclui-la”, referiu o Presidente da Junta de Freguesia do Meimão, Francisco Campos. “Uma das razões que me levaram a fazer este monumento, e que levaram a Junta de Freguesia a fazer este monumento foi deixar uma homenagem a todos os emigrantes, e também ao meu pai, pois também ele foi emigrante. E este monumento é para aqueles que nos visitam todos os anos pela altura do Verão, e para que não se esqueçam da terra que os viu nascer”, acrescentou o Presidente. Contudo, esta escultura também é dedicada a todos aqueles que “vão para fora cá dentro”, ou seja, aos que se encontram imigrados dentro do país. Com a ideia bem definida daquilo que queria ver representado nesta obra, e depois de ouvir falar muito, e bem, do escultor Eugénio Macedo, Francisco Campos contactou por via telefone o escultor e transmitiu-lhe a ideia que queria e passado dez minutos já tinha um e-mail do mesmo com o esboço da escultura pretendida. E, depois, foi por mãos à obra. “Ele (Eugénio Macedo) conseguiu ler os meus pensamentos, que foi homenagear os emigrantes, uma serra a jorrar água, uma fonte e tapar um poço. A obra está realmente muito bonita” acrescentou o Presidente da Junta.
A inauguração simbólica realizou-se no passado dia 3 de Outubro, contudo, só será inaugurada oficialmente em Agosto de 2010, com a presença de todos os emigrantes.


Por: LRC

Conversando com metre Eugénio Macedo

Conversando com Eugénio Macedo Ver fotos

O Cinco Quinas esteve na freguesia do Meimão, para ver mais uma obra de um escultor bem conhecido da nossa região, e que é o autor de centenas de esculturas espalhadas pelas freguesias do concelho do Sabugal, falamos de Eugénio Macedo

Eugénio Macedo nasceu há 47 anos, e quis o destino trazê-lo até terras de Riba-Côa, mais propriamente até ao Soito, onde residiu alguns anos. O escultor reside, actualmente, em Figueira de Castelo Rodrigo com a sua esposa, Ina Barbosa, e tem dois filhos do anterior casamento.

O mestre Eugénio Macedo é o autor de centenas, quiçá, de milhares de obras espalhadas pelo concelho (a estátua do “Bombeiro” do Sabugal, a escultura da Nossa Senhora da Graça, o “Touro que está no Soito, o D. Sancho, em Alfaiates, etc.), pelo país e além fronteiras (Eugénio Macedo fez uma escultura de um bacalhoeiro, encomendado pela comunidade portuguesa que reside no Canadá). Para além de esculturas, em vários tipos de materiais, também se dedica à pintura.

A sua fixação na vila do Soito, ainda que por breves anos, deve-se a um acaso do destino. Saiu de Lisboa com o objectivo de seguir caminho até à vizinha Espanha. Contudo, a carrinha em que se deslocava avariou no Soito, onde decorriam as Festas em Honra de S. Cristóvão e, como tal, teve que ficar alguns dias até que o seu meio de locomoção ficasse arranjado. Devido ao ambiente de festa e à hospitalidade com que foi recebido pelas gentes da terra, os poucos dias que pensava ficar por cá, transformaram-se em anos.

Uma mente fervilhante, ansiosa por revelar o que esconde nos recantos do seu subconsciente, e que vê na arte, o meio de comunicação com o exterior, do que lhe vai na alma.

Neste momento encontra-se a fazer uma escultura encomendada pela Junta de Freguesia de Vila Boa, em homenagem ao “Agricultor”, que será entregue no dia 18 de Outubro. Para além da escultura que realizou no Meimão, encontra-se a ultimar outra em homenagem ao pensador, filósofo e escritor Agostinho da Silva (placa comemorativa do centenário do seu nascimento, 13 de Fevereiro de 1906), uma escultura de corpo inteiro em granito amarelo, que está a ser feita ao vivo em Barca D’Alva, no extremo norte do concelho de Figueira de Castelo Rodrigo.



Cinco Quinas (CQ) – Onde nasceu, ou melhor, de onde é natural?

Eugénio Macedo (EM) – É uma resposta malcriada, mas eu vou responder-te. Em cima da terra, debaixo do céu.



CQ – Mas de onde é que veio?

EM – A minha mãe disse-me que vim dela. Eu nasci com os olhos fechados, por isso não posso responder a esta pergunta.



CQ – Então não nos vai dizer onde nasceu….

EM – Nasci em cima da terra…



CQ – Então como é que veio parar ao Soito?

EM – Esta história já a contei várias vezes. Eu vinha de Lisboa, em direcção a Espanha e a carrinha avariou no Soito, no cruzamento da Nave para o Soito, e fui até ao Soito para arranjar a carrinha. Foi na altura das Festas de S. Cristóvão, e pronto lá fiquei. Conheci a Ti Anita, uma pessoa espectacular, que me arranjou uma casa por cinco dias, que acabaram por ser dez dias e que depois se tornaram em alguns anos.



CQ – Quantos anos é que residiu no Soito?

EM – Cerca de quatro/cinco anos. Não sou muito bom com datas.



CQ – Quantos filhos tem?

EM – A minha ex-mulher disse que eram meus, por isso tenho dois.



CQ – Quando é que lhe surgiu o gosto pela pintura e pela escultura?

EM – Isto não é gosto nenhum…é masoquismo. Mas surgiu em pequeno, como estudei Publicidade e Jornalismo fui trabalhar para a TV Globo na realização de cenários, e aí é que dei conta que tinha um certo sentido para este tipo de actividades. Não defino a escultura como arte, nem defino a pintura como arte. Eu defino a arte como aquele elemento que muda comportamentos. Por acaso, ou por acidente ou mesmo por estupidez, ainda não consegui incutir nas pessoas que convivem comigo de que a arte é uma MUTAÇÃO DO COMPORTAMENTO. Tenho este fracasso…eu assumo, mas como eu ainda não morri, pode ser que eu ainda consiga mudar isso.



CQ – Sabemos que é autor de várias esculturas que se encontram no concelho. Qual foi a primeira que fez?

EM – A primeira ou a mais importante?



CQ – A primeira e a mais importante…

EM – A primeira não fiz e a mais importante ainda estou para fazer.



CQ – Ainda se lembra de alguns trabalhos que fez no concelho?

EM – Esses trabalhos são insignificantes, são trabalhos esporádicos. Eu não chamo isto de trabalho, mas sim freelancer. A obra-prima, que não é a tia (risos), mas sim prima, ainda hei-de lá chegar. Mas já fiz milhares de esculturas.



CQ – Que esculturas é que está a fazer para além desta, que já terminou?

EM – Estou a fazer uma escultura em homenagem ao “Agricultor” para a Junta de Freguesia de Vila Boa, que é para entregar no dia 18 de Outubro. Estou a finalizar uma escultura de corpo inteiro do filósofo Agostinho da Silva, uma obra importantíssima para mim, em Figueira de Castelo Rodrigo, Barca D’Alva.



CQ – Essencialmente, que tipo de materiais é que utiliza?

EM – Desde o vento até ao céu. Não tenho dificuldades em manipular os materiais.



CQ – O vento é um bocadinho complicado de manipular?

EM – Depende, se pusermos um vidro e tal…consegue-se se fazer (risos).



CQ – Mas pelo que podemos ver trabalha muito com pedra?

EM – A pedra é uma fatalidade, não é uma coisa adquirida. Mas foi uma fatalidade, porque quando eu cheguei ao Soito, olhei para o lado e disse: “Bem…só tem pedra, então trabalhamos a pedra”.



CQ – E a pintura, onde é que ela se encaixa?

EM – Já me arranjaram outro problema. A pintura para mim é uma reserva que eu tenho no coração. Todos os dias pinto quando me deito. Os melhores quadros que eu pintei foi em sonho, e os melhores quadros que eu vou pintar serão em sonho.



CQ – Pretende voltar a morar no concelho do Sabugal?

EM – Não sei qual foi o blog que eu vi que dizia: “Eugénio Macedo volta ao concelho”. Eu não consigo ausentar-me do Sabugal, arranjei grandes amigos e para mim é um dos melhores pedaços do mundo. Mas como eu já disse por várias vezes, eu no concelho do sabugal não consigo produzir, não consigo achar as coisas de que necessito para produzir. Mas todas as vezes que eu regresso é sempre uma festa, porque a única dificuldade que eu tenho, mesmo, é em arranjar o produto para produzir.



CQ – Quem é o Eugénio Macedo?

EM – É um indivíduo complicado e que não tem futuro.



Por: LRC